COMO INCORPORAR O USO DE MÍDIAS EM SUA ESCOLA PARA TRABALHAR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL?



O papel do professor não é apenas o de ensinar, deve criar condições para que o aluno aprenda, permitir a construção do conhecimento e não apenas a transmissão de informações [...]
COMO INCORPORAR O USO DE MÍDIAS EM SUA ESCOLA PARA TRABALHAR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL?
 
FOFONKA, Luciana
Graduada em Biologia pela UNISINOS, Pós-Graduada em Educação Ambiental pelo LA SALLE e Mestre em Geografia -Análise Ambiental pela UFRGS.
 
 
O papel do professor não é apenas o de ensinar, deve criar condições para que o aluno aprenda, permitir a construção do conhecimento e não apenas a transmissão de informações.
O processo de construção exige que a escola ofereça os mais variados métodos, recursos, instrumentos que motivem a aprendizagem. Trabalhar com projetos incorporando o uso de mídias permite essa construção, pois, possibilita que os alunos se tornem também agentes e não apenas coadjuvantes do processo de ensino-aprendizagem.
Principalmente no mundo atual com o avanço das tecnologias e mídias, os projetos que envolvam esses recursos se tornam mais interessantes e criativos. Pois o uso das mídias é cada vez mais procurado pelos alunos pela possibilidade de "unir o útil ao agradável", tudo muito prático, divertido, interessante. Os alunos passam a ser mais autônomos e participativos.
Através de projetos que envolvam as mais variadas mídias também é possível trabalhar a educação ambiental, promovendo uma sensibilização por meio de ações pedagógicas que possibilitem os educandos vivenciar os problemas ambientais, para desenvolverem valores, hábitos e atitudes de preservação à vida.
Segundo Müller (1997) a educação ambiental na escola não é uma solução mágica para os problemas ambientais, mas um processo contínuo de aprendizagem e de reconhecimento, bem como da prática de ser cidadão, capacitando o indivíduo para uma visão crítica da realidade e uma atuação consciente no espaço social. Não se trata de uma transferência de responsabilidade, mas da construção da responsabilidade no ambiente escolar pelas relações com a natureza, sociedade e cultura.
Assim apresento como sugestão de atividade de educação ambiental através do uso de mídias um mini-projeto realizado com meus alunos do Ensino Médio do Instituto Estadual de Educação Santo Antônio, Santo Antônio da Patrulha, RS no ano de 2008.
 
Tema da Proposta:
 
“Internet, Power Point e Educação Ambiental: Sistematização das aulas com uso da Mídia e da Tecnologia, propiciando uma forma organizada de ensinar e aprender, motivando para a construção da consciência ambiental”.
 
Objetivos a serem atingidos:
 
Ø       Sistematizar a aula com uso das mídias e das tecnologias, propiciando uma forma organizada de ensinar e aprender;
Ø       Usar a Internet para complementar os conteúdos da aula;
Ø       Registrar fatos relacionados ao tema da aula através da utilização de máquina fotográfica;
Ø       Utilizar o Power Point (programa de software) para criar slides para uma apresentação do trabalho realizado;
Ø       Estruturar as aulas partindo de objetivos pontuais e significativos para motivar a aprendizagem;
Ø       Orientar o aluno para que construa conhecimento a respeito do tema a ser trabalhado;
Ø       Possibilitar que o processo de aprendizado e construção do conhecimento aconteça de forma colaborativa e interativa;
Ø       Possibilitar que o aluno seja o protagonista, indo em busca do conhecimento;
Ø       Aumentar a atenção e o interesse dos alunos pelas aulas;
Ø       Sensibilizar quanto à necessidade de ações para minimizar os impactos ambientais;
Ø       Promover a educação ambiental;
 
 
Problema/ Questão a ser resolvida/ investigada
 
Um dos problemas a ser resolvido é a falta de planejamento do professor quanto ao uso da Internet e do computador para complementar os conteúdos de suas aulas. Evitar a forma improvisada do uso das mídias e tecnologias, para que os alunos não acessem, por exemplo, sites que não têm a ver com o assunto abordado. Outra questão é a falta de interesse dos alunos quanto à aprendizagem no método convencional. A apatia e o descaso em relação as questões ambientais também é relevante. Com um bom planejamento relacionando mídias, tecnologias com os conteúdos a serem trabalhados é possível tornar as aulas mais interessantes para os alunos, motivando-os para a aprendizagem, assim propiciando o desenvolvimento de novas situações pedagógicas que também promovam a educação ambiental.
 
 
Público a ser envolvido
 
O projeto pode ser realizado tanto pelo Ensino Fundamental como pelo Ensino Médio. Neste caso, foi desenvolvido no Ensino Médio.
 
 
Abordagem Pedagógica quanto ao uso de Mídias
 
A Internet e o computador abrem possibilidades para novas abordagens metodológicas na Educação. O professor deixa de ser o centro das informações para o aluno (BORBA & PENTEADO, 2001). Abrem desafios para os professores e para o processo de ensino e de aprendizagem, ao possibilitarem o desenvolvimento de novas situações pedagógicas.
A perspectiva para o uso de Internet na escola é motivar para que os alunos trabalhem em grupos na investigação de determinados assuntos e que esse trabalho envolva também a colaboração de pessoas que estão distantes geograficamente da escola.
Segundo Borba & Penteado (2001) as mídias e tecnologias lançam a possibilidade de abordar um tema novo e instigar a curiosidade da sala. O aluno descobre que é capaz de superar desafios e ir a busca do conhecimento, percebe que é criativo e que pode contribuir com um grupo.
As mídias interativas além de interconectar as informações também dispõem de recursos para estudos transdisciplinares, quebrando paradigmas que colocam áreas de estudo como fim em si própria. No ambiente virtual a aprendizagem segue o ritmo da mente humana que, ao invés de memorizar, seleciona e interpreta o que encontra, construindo saberes. Para Morin (2000) o conhecer e o pensar não é chegar a uma verdade absolutamente certa, única, mas dialogar com a incerteza.
A multimídia pode acelerar e propiciar uma maior  apreensão do tema a ser trabalhado, pois, fornece uma grande quantidade de estímulos que, se não forem adequados, se transformarão em “ruídos” (COSCARELLI, 1998). É necessário contribuir para que o aluno transforme seus pensamentos, compreenda conceitos, reflita sobre eles crie novos significados. Não basta ter acesso à informação, é necessário saber usá-la, aprofundá-la para construir o conhecimento.
De acordo com Kampff & Dias (2004) é na pesquisa, na seleção e na síntese dessas múltiplas informações que o professor torna-se indispensável, como mediador e facilitador do processo de construção do conhecimento. Para tanto é fundamental que o professor conheça as possibilidades e domine os recursos da multimídia, para que o conhecimento seja visto como um processo contínuo de
pesquisa e múltiplas interações.
A nova concepção de professor está relacionada com o perfil de um orientador, facilitador do processo, que aprenda a repensar suas sínteses, a tomar atitudes provisórias, permanentemente, refeitas mediante perspectivas e resultados obtidos com a utilização da tecnologia e dos recursos multimediáticos por ele oferecidos (MORAN, 1997).
 
 
Mídias e Tecnologias a serem utilizadas
 
Para a idealização do presente estudo foram utilizadas as seguintes mídias e tecnologias:
Ø       Internet, programa de softwar Power Point, computador, máquina fotográfica, DataShow, aparelho DVD, documentário, entre outros;
 
 
 Atores e Papéis que deverão desempenhar
 
Ø       Aluno: pesquisador, construtor do seu conhecimento, administrador do seu tempo e das suas competências; cidadão consciente de sua responsabilidade frente aos impactos sócio-ambientais; multiplicador da consciência ambiental;
Ø       Professor: mediador e facilitador do processo de construção do conhecimento; motivador para sensibilizar promovendo a conscientização ambiental.
 
 
Dinâmica da Atividade
 
Como dinâmica da atividade:
Ø         Assistir a um documentário;
Ø         Pesquisas na Internet;
Ø         Entrevistas;
Ø         Fotografar e filmar para registrar fatos relevantes ao trabalho;
Ø         Elaboração de uma apresentação no Power Point;
Ø         Seminário final;
 
 
Proposta Preliminar das Etapas/ Ações a serem realizadas
 
Ø    1ª Etapa: Expor para a turma o trabalho a ser desenvolvido. Promover uma sensibilização sobre o tema a ser trabalhado através de um documentário que será passado na sala de vídeo da Escola. O tema em questão será relacionado aos impactos ambientais negativos. Após será realizado um debate, reflexão sobre o vídeo assistido.
 
Ø    2ª Etapa: Organizar a turma em grupos. Pesquisar se todos dominam o uso do computador e da Internet, se conhecem os sites de busca, bem como se todos possuem essa máquina em casa. Caso contrário, procurar ajustar os alunos que não dispõem dessa mídia e tecnologia com colegas que as possuem. Ressaltar da importância de filtrar as informações recebidas nos sites de pesquisa. Ir até o laboratório da escola para exemplificar.
Após solicitar que efetuem nos devidos grupos uma pesquisa na Internet sobre os impactos ambientais negativos que estão atingindo nosso país. Essa pesquisa poderá ser realizada na Escola, desde que o Laboratório de Informática esteja funcionando perfeitamente. Caso contrário terão que realizar em casa ou buscar outros meios que iremos discutir no momento necessário.
 
Ø    3ª Etapa: Solicitar que procurem a prefeitura de sua cidade, mais precisamente a Secretaria ou o Departamento do Meio Ambiente (Santo Antº da Patrulha não possui Secretaria do Meio Ambiente) para entrevistá-los. A entrevista deve pautar sobre os principais impactos ambientais negativos que ocorrem no nosso município.
 
Ø    4ª Etapa: Com esses dados em mãos, realizar um sorteio onde cada grupo ficará encarregado de um dos impactos citados. Após os grupos terão que localizar esses problemas ambientais, registrar através de fotos, vídeos, bem como entrevistar os moradores dessa redondeza. Também poderão utilizar a Internet para buscar mais informações, complementando a pesquisa.
 
 
Ø    4ª Etapa: Quando todos tiverem com as etapas anteriores concretizadas (será estipulado um período limite) será efetuado o planejamento da apresentação desse estudo. A apresentação será realizada através do programa de software Power Point. Para tanto os alunos serão dirigidos novamente ao Laboratório da escola, para a explicação do funcionamento desse software. Os alunos terão um tempo previsto para a criação do vídeo onde apresentarão os passos, as conclusões obtidas e as sugestões para minimizar os impactos ambientais negativos do município.
 
Ø    5ª Etapa: Após a apresentação de todos os grupos será realizado um seminário para aprofundarmos sobre o tema pesquisado, validade do trabalho, avaliando pontos positivos e negativos na metodologia empregada, nos recursos utilizados, bem como sugestões para os próximos estudos.
 
 
Ø    6ª Etapa: Apresentar os vídeos para os demais alunos da escola, multiplicando a importância de utilizarmos as mídias e tecnologias a favor da educação e da conscientização ambiental. Também serão convidados os entrevistados da Secretaria/ Departamento do Meio Ambiente do Município em questão, representantes dos jornais e rádios locais para prestigiarem esse projeto.
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
BORBA, M. C.; PENTEADO, M. G. Informática e Educação Matemática. 2. ed. Belo Horizonte: Editora
Autêntica, 2001.
 
COSCARELLI, C. V. O uso da informática como instrumento de ensino-aprendizagem. Presença Pedagógica. Belo Horizonte, mar./abr., 1998, p.36-45.
 
KAMPFF, Adriana Justin Cerveira ; DIAS, Márcia Gládis Cantelli . Construção do Conhecimento em Ambientes de Pesquisa e de Autoria Multimídia. Caderno Marista de Educação, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 72-85, 2001.
 
MORAN, José Manuel. Como utilizar a Internet na educação. Ciência da Informação, Brasília, v.26, n.2, p.146-153, maio/ago. 1997.
 
MÜLLER, Jackson. Educação Ambiental – Diretrizes para a Prática Pedagógica. Porto
Alegre: FAMURS, 1997. 146p.


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Rita Mendonça "O educador ambiental ensina por suas atitudes"


Divulgadora no Brasil de uma nova metodologia de educação ambiental, a bióloga e socióloga acredita que o professor deve explorar a natureza com os alunos e compartilhar com eles suas impressões
Tatiana Achcar (Tatiana Achcar)

"É importante o professor refletir sobre o que consome e como se relaciona com o mundo à sua volta". Foto: Ricardo Benichio
Para resolver os problemas ambientais, é necessário mais do que separar o lixo para reciclagem ou fechar a torneira enquanto se escova os dentes. Refletir sobre o nosso comportamento e as relações que temos com a natureza e com as pessoas também é parte fundamental desse processo na opinião de Rita Mendonça. Bióloga e socióloga, ela é co-fundadora do Instituto Romã, entidade sediada em São Paulo que representa no Brasil a Sharing Nature Foundation - organização não-governamental americana dedicada à educação ao ar livre. Rita abrasileirou a metodologia de ensino da Sharing, baseada em dinâmicas e jogos seqüenciais. O objetivo é levar os participantes a concentrar a atenção, a aguçar a percepção e a ter um contato mais profundo com a natureza, já que a experiência é essencial para a mudança de comportamento em relação ao mundo. Educadores estão sendo formados pelo Instituto Romã para trabalhar com essa perspectiva em um programa que une teoria e muita prática, em viagens a campo. "O professor já sabe muita coisa sobre o tema, mas precisa experimentar o que ensina", diz Rita. Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, ela explica esse novo conceito de educação ambiental.

Como nasceu a educação ambiental?
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, a sociedade tomou conhecimento dos problemas ambientais e os governos definiram que a saída para mudar o mundo seria a educação. Foi necessário criar o termo educação ambiental porque nos afastamos da natureza. Os processos educativos ficaram racionais e a escola descuidou dos sentimentos, das sensações e das relações em sala de aula, esquecendo o ar, a água, o corpo, o bairro, a cidade, o planeta. Ora, se a educação ambiental pretende resolver os problemas ambientais pela formação das pessoas, é preciso usar ferramentas transformadoras. Uma delas é o aprendizado seqüencial.

O que é o aprendizado seqüencial em educação ambiental?
É uma pedagogia que desenvolve a percepção de alunos e professores. A proposta consiste em uma seqüência de atividades, em quatro fases, que deve ser aplicada em espaços naturais - na praça, no parque, na praia, na montanha, no mangue e até mesmo no jardim da escola.

Como se dá, na prática, esse aprendizado?
A primeira fase, Despertar Entusiasmo, é formada por jogos que servem para criar interação e harmonia no grupo. Uma das dinâmicas é realizada em uma área com diferentes espécies de árvore. O professor escolhe uma que tenha uma aparência atraente - um salgueiro ou um pinheiro, por exemplo - e imita a forma dela com seu corpo. Observando o professor, as crianças tentam reconhecer qual é a árvore escolhida. A segunda, Concentrar a Atenção, é o foco da metodologia: visa promover a concentração da turma e acalmar a mente. Os exercícios despertam o interesse em ouvir os sons da natureza e perceber diferentes temperaturas e cheiros. A terceira, Experiência Direta, desenvolve a percepção das diferenças entre os elementos da natureza. Em uma das brincadeiras, os alunos, de olhos vendados, sentem uma árvore pela textura, pela forma e pelo cheiro. Depois, de olhos abertos, eles têm que reconhecer, na mata, qual é aquela árvore. Essa interação aguça a intuição e a percepção. Na última fase, Compartilhar, os estudantes dividem suas impressões sobre o que fizeram durante essas aulas contando histórias, fazendo desenhos, poesias coletivas e individuais e haicais.

Como é o trabalho do educador no aprendizado seqüencial?
Ao explorar a natureza com as crianças, ele aplica cinco regras da educação ao ar livre. A primeira é ensinar menos e compartilhar mais. Isso torna qualquer visita mais agradável, porque a criança se cansa de ficar apenas ouvindo. A segunda é ser receptivo, perceber o que os alunos estão pedindo e humanizar as relações. A terceira é se concentrar, porque não dá para fazer nada se a turma não estiver atenta. A quarta regra é experimentar primeiro e falar depois. Nem tudo precisa ser explicado. É importante dar ao professor e às crianças tempo para encantar-se com detalhes que ainda ninguém viu e compartilhar o que todos estão sentindo. Por fim, criar um ambiente leve, alegre e receptivo, onde todos se sintam bem. O trabalho visa fazer alunos e professores perceberem o que estão sentindo, pois o sentimento influencia a maneira de compreender e pensar. É mais fácil discordar de uma idéia se você está irritado. Quando está feliz, tende a ser mais receptivo.

Professores de todas as disciplinas podem ser educadores ambientais?
Sim. O professor de Ciências tem muita informação sobre a natureza e acaba fazendo um trabalho mais explicativo. Mas o fundamental para qualquer professor é educar principalmente pelo que ele é, por suas atitudes, e não apenas pelo conhecimento que tem da matéria. As crianças aprendem muito pela imitação. O bom professor diz aquilo em que de fato acredita. Ele refletiu sobre o conteúdo que leciona e fala do assunto com convicção, fazendo uma confissão por meio da Física, da Matemática, da Língua Portuguesa.

O professor está preparado para ser um educador ambiental?
Especialmente preparado, porque é um educador. Mas, se ele quer se engajar na questão ambiental, deve começar pensando na sua vida, no seu comportamento e na sua relação com o próprio corpo e com a natureza. O contato mais direto que temos com ela é pela alimentação. Então, ele deve analisar a relação entre o que come, o ambiente e o modo como monta seu cardápio, por exemplo. Uma maneira de fazer isso é pensar sobre o ciclo que aquele alimento percorreu, desde sua origem até chegar à mesa. É importante também refletir sobre o que consome e como se relaciona com o mundo à sua volta. O professor pode ainda perceber como se sente na frente de uma vitrine. Tem vontade de comprar? Fica frustrado se não pode? Analisa por que necessita daquilo? Esse exercício dá uma grande bagagem, equivalente à que ele acumularia em vários cursos. É só aprender a usá-la.

Qual o benefício de a escola proporcionar uma vivência na natureza?
Em contato com a natureza percebemos que temos uma existência em comum. Quanto mais unificamos as relações entre nós e o ambiente, mais harmônica é nossa vida. Na nossa proposta pedagógica, o professor não ensina o que é natureza e não a descreve, mas relaciona-se com ela e compartilha com os alunos o que para ele faz sentido nessa experiência. O encantamento dos estudantes pelo tema vem dessa troca com o professor, que motiva a turma a querer aprender. O relacionamento entre eles se torna mais intenso e sincero, as mentes se acalmam e a concentração de todos melhora.

A questão ambiental tem caráter filosófico?
O problema ambiental é resultado de uma crise de percepção. Se queremos resolver essa crise, temos de melhorar nosso entendimento sobre o mundo. Assim, criamos um território fértil para encontrar soluções, e a escola pode ajudar nisso. Durante as aulas, promovemos momentos de diálogo - o que é muito diferente do debate -, em que os estudantes conversam, analisando o que pensam sobre aquele assunto e procurando entender o que está acontecendo em nosso planeta. Esse é um exercício de observação de nossa forma de pensar e das dificuldades de aceitar opiniões diferentes.

Qual é a origem dos problemas ambientais?
Os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Valera e a historiadora austríaca Riane Eisler sustentam a idéia de que os problemas ambientais surgiram há 7 mil anos, com o fim das culturas "matrísticas" - o termo vem da palavra matriz e se refere à mulher - e o surgimento das culturas patriarcais. Na cultura matrística, a relação com a natureza e com as pessoas da comunidade e de outros povos era estabelecida por limites e de forma harmônica. Os povos se viam como parte do ambiente e a complexidade estava nas relações e não nas questões materiais. A cultura patriarcal surgiu na Mesopotâmia, quando o homem começou a desejar dominar o meio e outros povos. Hoje, temos o mesmo conflito: aceitar os limites impostos pela natureza sabendo que somos 6 bilhões e que vivemos em um planeta só ou atender ao desejo de ter uma vida confortável e consumir cada vez mais?

Por que a tecnologia e a ciência não conseguiram resolver esses problemas?
Albert Einstein dizia que nós não conseguimos solucionar um problema permanecendo no mesmo nível de consciência em que ele foi criado. Veja o exemplo do lixo: começamos a criar substâncias artificiais que a natureza não reconhece. Daí, desenvolvemos tecnologias de reciclagem que imitam com muita limitação o ciclo da natureza, mas não resolvem a questão. A confiança na tecnologia faz as pessoas consumirem sem compromisso. Hoje, o volume de produção de lixo é desproporcional ao que é possível reciclar. Então, a reciclagem nunca solucionará a questão, porque a indústria vai criar novas substâncias e as pessoas vão consumir cada vez mais achando que tudo pode ser reciclado.
Quer saber mais?
Instituto Romã, tel. (11) 3726-7939, http://www.institutoroma.com.br/

BIBLIOGRAFIA
À SOMBRA DAS ÁRVORES - TRANSDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ATIVIDADES EXTRACLASSE
, Rita Mendonça e Zysman Neiman, 167 págs., Ed. Chronos, tel. (11) 3081-8429, 26 reais

CONSERVAR E CRIAR - NATUREZA, CULTURA E COMPLEXIDADE, Rita Mendonça, 256 págs, Ed. Senac, tel.(11) 2187-4450, 42 reais

VIVÊNCIAS NA NATUREZA - GUIA DE ATIVIDADES PARA PAIS E EDUCADORES, Joseh Cornell, 208 págs., Ed. Aquariana, tel. (11) 5031-1500, 32 reais

Fonte:
http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/fundamentos/rita-mendonca-educador-ambiental-ensina-suas-atitudes-426107.shtml

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Entrevista com Sueli Furlan sobre Educação Ambiental nas escolas


Para a especialista, os gestores precisam experimentar iniciativas, mesmo que pontuais, em busca de uma escola sustentável
Aquecimento global, tsunamis, créditos de carbono. Essas expressões, que hoje estão presentes no cotidiano das pessoas, eram desconhecidas do público no final da década de 1990, época em que os Parâmetros Curriculares Nacionais foram publicados. Segundo a professora da Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo, Sueli Furlan, o volume do PCNs que aborda o tema transversal meio ambiente já trazia os embriões dessas questões ambientais que, no século 21, ganharam escalas mundiais. Nesta entrevista, ela fala dos novos temas que devem ser abordados em sala de aula e da importância dos gestores assumirem o desafio de transformar suas instituições em escolas sustentáveis.
Que novas questões surgiram sobre o tema transversal meio ambiente desde a publicação dos PCNs?
Sueli Furlan As questões ambientais ganharam uma nova roupagem nesta década. Em 1997, quando foram publicados, os PCNs levaram os professores a pensar nos conteúdos de meio ambiente de modo a construir uma postura cidadã e formar um sujeito mais comprometido com seu espaço, com a sua vida, com seus limites dentro do planeta. Isso era bastante inovador para a época.

Anos depois, o debate sobre meio ambiente ganhou outro volume, tanto do ponto de vista temático - passando a incluir questões como o aquecimento global em escala planetária - quanto em escala nacional. Após os PCNs, foram criadas leis voltadas para a temática ambiental, como a que estabelece o Sistema Nacional de Áreas Protegidas e a lei do Estatuto da Cidade - um documento importante que organiza o ambiente urbano. Dentro das novas legislações, encontramos princípios focados no controle ambiental e fica fácil perceber que a sociedade passou lidar com as questões ambientais de uma maneira diferente.
Na sua avaliação, atualmente o tema meio ambiente está mais presente nas escolas?
Sueli Furlan A questão ambiental surgiu na sociedade, e não na escola, e foi escolarizada depois. Contudo, não podemos afirmar que o tema esteja suficientemente enraizado na escola, temos ainda muita coisa pra fazer.

Uma das limitações que existe refere-se ao ponto de vista metodológico. As pessoas sabem muito sobre o tema meio ambiente, mas não sabem atuar para resolver os problemas. Há uma grande diferença entre falar sobre o tema e fazer Educação Ambiental. Em geral, a mídia e os professores já falam bastante sobre questões ambientais, mas precisam avançar em direção à Educação Ambiental, que envolve mudança de valores e atitudes dos adultos e ensino desses novos valores e atitudes para as crianças na escola.

Como é possível fazer isso em sala de aula?
Sueli Furlan Para avançar em direção à Educação Ambiental é importante definir o âmbito de atuação dos professores e saber com clareza até onde, de fato, a escola pode agir. Tomando como exemplo a questão do lixo - tema muito presente nas escolas - é comum ver projetos que acabam frustrando os alunos por mostrarem a eles uma realidade em que não conseguem interferir. Eles começam com a compreensão de um processo e o entendimento do que é o resíduo. Em seguida, estudam como fazer a coleta, como separar o lixo, como ele é constituído, o que é um aterro sanitário, o que é um sistema integrado de tratamento. Quando vão colocar em prática o que aprenderam, notam que a cidade não tem sistema reciclagem porque o poder público não tem uma política para a área. Ou seja, a escola ensina de um jeito, o aluno vê que lá fora a realidade é outra e acaba achando que o que ele aprendeu não serve.

Por isso, é preciso saber a limitação que se tem e deixá-la clara aos alunos. Eles podem compreender a dimensão do problema. Podem, sim, ser pessoas menos perdulárias com o desperdício de recursos. Mas precisam também, num caso como este que eu exemplifiquei, aprender como o cidadão deve agir, caso não haja políticas públicas efetivas voltadas para a resolução de questões ambientais. Mobilizar um grupo para pressionar a prefeitura, participar de movimentos, ONGs, são alguns exemplos de outros níveis de ação, que não vão necessariamente tratar o lixo em si, mas levam a compreender melhor a complexidade real do problema e como agir de maneira mais articulada.

Qual é o papel do gestor escolar nesses projetos?
Sueli Furlan Hoje, seria muito interessante que os gestores escolares assumissem o compromisso de transformar a escola em exemplo de sustentabilidade, com uso responsável de recursos, no consumo de energias, na manutenção dos equipamentos, na utilização dos materiais, com a qualidade de vida e do ambiente na escola. O que se deseja idealmente é que as pessoas possam perceber-se no mundo e possam lidar com as questões ambientais a ponto de querer transformar o seu próprio modo de viver e seu modo de interagir com os recursos existentes. E a escola deveria ser um lugar privilegiado para que essa percepção acontecesse.

Que iniciativas simples poderiam tornar a escola mais responsável do ponto de vista ambiental?

Sueli Furlan A escola muitas vezes trabalha com questões macro para discutir grandes problemas ambientais, e não consegue ir além do que a mídia já faz: informar sobre o problema. É necessário, então, pensar em pequenas atitudes concretas. Um exemplo está na quantidade de mobiliário quebrado que a gente vê nas escolas e ninguém toma uma providência. Aquilo é recurso natural que está lá. Quase toda escola tem um lugar onde são guardados esses móveis. As pessoas até fazem projetos e identificam isso como um problema, mas não percebem que resolvê-lo é muito importante. A mesma coisa acontece com o desperdício de água e energia, que podem ser projetos de solução de um probleminha muito micro, muito pontual, mas na temática do meio ambiente, o pontual é sempre parte de uma totalidade. Cada um com o seu trabalho pontual é capaz de promover uma grande mudança.

Fonte:  http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/entrevista-sueli-furlan-educacao-ambiental-escolas-meio-ambiente-sustentabilidade-529870.shtml

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Neide Nogueira fala sobre Educação Ambiental no Brasil


Coordenadora de Temas Transversais dos PCNs avalia a Educação Ambiental nas escolas das redes estaduais
Qual a distorção mais comum na Educação Ambiental?
Neide Nogueira  >
O maior pecado de quem acha que está fazendo Educação Ambiental, e não está, é acreditar que apenas o estudo de textos e a circulação de informações é suficiente. Outro é fazer trabalhos pontuais, sem continuidade e sem permanência. Por exemplo, realizar uma série de ações somente na semana de Meio Ambiente, eventualmente numa data comemorativa, ou organizar um seminário desprovido de um processo contínuo de formação. Tudo isso ajuda, é melhor do que nada, mas não é suficiente.

Tratar a Educação Ambiental apenas com projetos didáticos é um bom caminho?
Neide Nogueira >
Projeto é uma boa modalidade. O problema é que raramente os professores trabalham o projeto de forma integrada. Acaba ficando postiço. Você tem a aula planejada de uma forma e o projeto à parte. Acaba o projeto ambiental e não fica nada.

Para você, como seria uma Educação Ambiental ideal?
Neide Nogueira >
Antes de tudo, é preciso diferenciar Educação Ambiental e ensino sobre Meio Ambiente. Os conteúdos em si, os conceitos de ecologia, a Geografia e as Ciências já trazem. Outra coisa é fazer um trabalho que tem a ver com mudança de valores, atitudes e práticas. E isso é muito mais difícil, é preciso pensar uma didática que favoreça isso. Não adianta só ler textos e ver filmes. Temos que incluir situações práticas com as quais os alunos se envolvam. Precisa pensar a escola como parte do ambiente, considerar o consumo dos recursos, o reaproveitamento, o desperdício, procurar funcionar de um jeito sustentável. E, para isso, tem que envolver também a gestão escolar. É um trabalho complexo. Ter um coordenador pedagógico faz toda a diferença. Tudo isso mexe com a estrutura da escola.

Qual é o principal desafio conceitual da Educação Ambiental?
Neide Nogueira >
Ela propõe que os alunos adotem posturas e valores que são o contrário do que a maioria da sociedade faz e afirma. Por exemplo, ensina que é preciso reduzir o consumo, mas o que mais se vende na televisão é o consumo. A quantidade de consumo define o status social. Quando se quer que os alunos aprendam e adotem uma postura tão diferente do que está preestabelecido, a ação deve ser permanente.

É preciso falar de natureza o dia todo, em todas as aulas?
Neide Nogueira >
A discussão sobre a temática não precisa estar presente o dia inteiro, não é uma pregação religiosa. Mas a postura que se quer estabelecer pode e deve ser trabalhada o tempo todo, como atuar em equipe, cooperar entre si. Um dos alicerces dos problemas ecológicos é a competição, a idéia de levar vantagem sobre tudo. Uma reflexão ética também é fundamental e pode estar sempre presente na escola.

A Educação Ambiental deve estar em todas as disciplinas?
Neide Nogueira >
É preciso ter certo cuidado. As diferentes áreas e os diferentes conteúdos se relacionam de diferentes formas com o ambiental. Nem tudo é compatível. A articulação não é possível com todos os conteúdos de todas as áreas. Pode ficar forçado. Trabalhar em História as relações dos diferentes povos com o meio ambiente é legal, há uma relação mais direta. Já em Língua Portuguesa ou Matemática, a abordagem é outra. O tema meio ambiente forma um contexto de uso e significado para o conteúdo estudado, como na atividade de medir o desmatamento na região e comparar com o limite permitido. Na área de Ciências, os próprios conceitos já fazem parte do currículo. Importante é ter em mente que todos os professores podem trabalhar com o assunto de forma transversal, desde que haja um planejamento conjunto, orientação e uma avaliação que leve em conta algumas metas. O que acontece muito é apenas a escolha de um tema gerador, e cada professor vai usar isso por dois meses para ensinar sua disciplina. Só que ninguém agüenta, passa um bimestre e você já começa a desalinhar. Aí não faz sentido.

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