Educação ambiental e os quatro pilares propostos pela Unesco


A profunda preocupação produzida pelos problemas cada vez mais graves que afetam o meio ambiente é um acontecimento recente em nossa sociedade.
Historicamente, a preocupação com o meio ambiente surgiu da conjugação de diferentes aspectos, tanto no surgimento dos primeiros movimentos ecológicos na sociedade civil – profundos questionamentos em relação aos modos de vida que culminaram nos movimentos de maio de 1968 na França, com repercussão no resto do mundo – como nos problemas emergentes em âmbitos científicos ou em problemas derivados da expansão capitalista.
Gutman (1988, citado por Medina, 1994) define o meio ambiente como um conjunto de componentes naturais e sociais e suas interações num espaço e num tempo determinados. Ele associa também a dinâmica das interações sociedade-natureza e suas consequências ao espaço em que se habilita o homem e do qual também é parte integrante.
Dessa forma, o “meio ambiente é gerado e construído ao longo do processo histórico de ocupação e de transformação do espaço pela sociedade”.
A concepção de meio ambiente vem evoluindo através dos tempos e o homem passa de uma percepção restrita aos aspectos biológicos e físicos para uma concepção e percepção mais amplas em que se consideram essenciais seus aspectos econômicos e socioculturais.
Diante da irracionalidade no uso do meio ambiente, acreditamos que a escola é o local adequado para essa tarefa de tomada de consciência da existência dos problemas ambientais, onde se deve preparar o aluno para uma participação organizada e ativa, na democratização da sociedade, fornecendo-lhe o instrumental por meio da aquisição de conteúdos e práticas que favoreçam as correspondências destes com os interesses e as experiências dos alunos.
Se as propostas pedagógicas das escolas estão realmente comprometidas com a formação do cidadão como ser individual, social, político, cultural e produtivo e se habilitam a instrumentalizá-lo para uma participação ativa nos processos sociais e compromissos decisivos de direção da sociedade, a educação socioambiental deve ser plenamente compatível com os fins, objetivos e organização do sistema educacional.
No entanto, na educação socioambiental não se trabalha com improvisação nem compartilhamento e isolamento. É imprescindível conhecer bem a situação ambiental da área em estudo, assim como debater as necessidades e as possibilidades a realizar com segurança projetos de educação socioambiental que sejam executados não como outra disciplina no currículo escolar, para isoladamente trabalhar seus temas, mas para trabalhar de modo coletivo e interdisciplinar, permeando as várias atividades e disciplinas curriculares, como uma necessidade socioeducativa real de toda a comunidade escolar.
Para que a escola possa ajudar efetivamente o educando em sua preparação, diz Freire (1980):
“É preciso que a educação esteja em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos, adaptada ao fim que persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história”.
Este milênio exige dos educadores o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes voltadas para o pensar, reformular e transformar a prática pedagógica com vistas a mudanças significativas no contexto escolar.
Para Delors (1998), os quatro pilares da educação – saber conhecer, saber fazer, saber conviver e saber ser – darão sustentação à prática pedagógica e, satisfazendo as exigências contemporâneas, permitirão ao aprendiz ser um agente participativo, com condições não só intelectuais, mas também práticas de agir sobre a realidade de agora e do amanhã, atendendo às dimensões ética e cultural, tecnológica e científica, social e econômica da educação.

Saber conhecer
            Hoje, o professor precisa saber: dialogar; escutar; fazer se assessorar; zelar pela filosofia da instituição; trabalhar em equipe; promover a discussão e a reflexão; transmitir os conteúdos específicos de sua área articulando eficazmente a política e os objetivos educacionais; avaliar de forma mais eficiente; compreender as implicações sociais; culturais; econômicas e ambientais da ciência e tecnologia; analisar criticamente a problemática cultural, social, econômica e ambiental, relacionando os conteúdos de sua área com o cotidiano; selecionar as melhores informações, bem como interpretá-las; conhecer os procedimentos científicos; e manusear a bibliografia de sua área de atuação.

Saber fazer
            É a congregação e a explicitação dos demais saberes da prática pedagógica, além do domínio teórico e metodológico e do trânsito fácil pelos instrumentos técnicos de caráter geral. É necessária uma convivência íntima com o que é específico e importante para propiciar a concretização da aprendizagem da área científica.
            Destacam-se: clareza e objetividade na comunicação, habilidade na condução em situações complexas, capacidade de argumentação, análise de fatos do cotidiano, atitude reflexiva na ação, iniciativa, criatividade, dentre outras.

Saber conviver
            Revela a realidade das relações situacionais, como cidadão na comunidade escolar, em seu grupo social, na sociedade global, na natureza. Envolve capacidade de fazer e receber crítica construtiva, atitude de respeito á opinião dos colegas, socialização de conhecimento, socialização de dúvidas e soluções, participação em grupos de estudos e de trabalho, espírito de cooperação, atitude de respeito para co a natureza, capacidade de lidar com múltiplos aspectos de situações relacionais.

Saber ser
            Implica uma séria reflexão sobre a postura ética e moral ante os graves problemas ligados á qualidade de vida, tomada em sentido mais amplo. A cidadania
é a meta buscada por todo sujeito consciente de seu papel na sociedade e na natureza. Normalmente, é evidenciada por atitudes que retratam responsabilidade social, participação democrática, postura transformadora, atitude crítica e, principalmente, comportamento ético. Por isso, o docente deve ser criativo, dinâmico, polivalente no saber, agente integrador, atualizado.
            Para o acompanhamento de todas essas mudanças, são importantes:
·         Nova postura didática–científica por partes dos professores.
·         Flexibilidade no pensamento.
·         Busca se novas fontes de informação e conhecimento.
            Para concluir, Gonçalves e colaboradores (1989, citados por Gonçalves, 1990) argumentam que o posicionamento correto do indivíduo diante da questão ambiental dependerá de sua sensibilidade e da interiorização de conceitos e valores, que devem ser trabalhados de forma gradativa e contínua e, sobretudo nas séries iniciais do ensino fundamental, devem ocorrer por meio da observação dos fatos cotidianos e dos problemas mais próximos.
A observação dos fatos e a percepção dos problemas devem levar à elaboração de conceito simples, pelos quais as interações do meio biofísico e social sejam demonstradas. Por meio de seus sentidos de compreensão, o indivíduo constrói os conceitos de valores, demonstrando posteriormente em seus hábitos e atitudes um modo de vida responsável em relação aos interesses coletivos e ao meio ambiente.

Construção da proposta pedagógica, volume 1 / Embrapa; Valéria Sucena Hammes, editora técnica. – são Paulo: Globo , 2004.

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